Natalidade (e não, não é a minha prima)

Acho importante darmos uma olhadela a uma das componentes da nossa pirâmide demográfica - A natalidade (não a minha prima, que é para não porem já com ideias).

Que todos temos consciência da redução da natalidade, é um facto. Agora se sabemos quais as reais consequências disso, é que eu já tenho algumas dúvidas.

Para já vamos a factos:
A melhor forma de saber nascimentos é através do teste do Pézinho e para isso vamos ao Instituto de Genética Médica Jacinto de Magalhães, no Porto, que centraliza as análises das amostras de sangue recolhidas através do teste.
Os dados apontam para um total de 100.026 rastreios efectuados em 2009 o que representa menos quatro mil do que em 2008. Estes testes cobrem 99,5% do total de nascimentos com sucesso em Portugal.

Os valores têm descrescido continuamente, com ligeiras oscilações, ao longo dos anos. Se se analisar a situação em termos de décadas, a quebra foi abrupta. Até meados dos anos 60, nasciam mais de 200 mil bebés por ano e Portugal era então um país conhecido por ter muita descendência. Actualmente estamos na situação inversa, a pirâmide deixou de ter uma base superior ao seu meio e estamos em linha com todos os países desenvolvidos (UE, USA, Japão, etc) - relembro que estamos a falar de natalidade, uma vez que a imigração é utilizada para contrabalançar estas contas e alterar os dados estatísticos (como no caso dos USA).

O peso relativo das mulheres em idade fértil (15 aos 49 anos) tem vindo a diminuir e simultaneamente observa-se um adiamento do projecto de maternidade. No início dos anos 80, o primeiro filho, em média, era tido aos 23,5 anos e actualmente é aos 28,4 anos.

Importa também referir um dado muito relevante e sem qual a análise da natalidade por si só não serve para absolutamente nada - o saldo de nascimentos vs falecimentos - que convém que seja natural (nascerem mais pessoas do que morrerem). Portugal é o oitavo país mais envelhecido do mundo, de acordo com um recente relatório da Organização das Nações Unidas e aqui sim, convém ter cuidado e começar a trabalhar no sentido de melhorar este rácio.


Impactos
Se por um lado menos pessoas, significam menos contribuintes e menos trabalhadores, afectando directamente as receitas dos estados e a mão-de-obra de cada nação (reflectindo-se em menores taxas de produtividade), por outro também representam menos consumo de recursos (e numa altura em que a gestão dos recursos disponíveis é muito importante, até que poderá ser uma forma de racionalizar hábitos de consumo)

Tudo isto se passa nos ditos países desenvolvidos, mas não nos podemos esquecer que a balança demográfica do globo é forma por um equilíbrio entre estes e os países em vias de desenvolvimento e países pobres, que estão actualmente com a situação oposta com um grande índice de natalidade - especialmente o triângulo Índia, China e Brasil - e que são os responsáveis pelo aumento na procura dos principais recursos.

Mas voltando à nossa realidade, porque é disso que se trata, considero que a redução da natalidade representa uma mudança no nosso paradigma de ver o mundo e o nosso futuro. Se antes a quantidade de filhos representava um garante para a nossa "reforma" e a prática de "quem cria 3 filhos, cria mais um" era lei, actualmente nada disto faz sentido na sociedade actual.

Crio assim espaço para abordar quais as razões que levaram e levam a este actual estado da nação:

Questões Médicas?
Claríssimo que os avanços na medicina condicionaram e sossegaram os medos que existiam sobre a natalidade (uma mulher actualmente pode estar mais segura que a sua gravidez terá uma taxa de sucesso 100% do que estava há 20 anos atrás), o que provoca uma resposta de adiamento dessa fase da vida em prol de outras actividades pessoalmente mais prioritárias (como uma carreira profissional ou académica, por exemplo) ,o que provoca um menor intervalo de procriação, porque sobra menos tempo às mulheres para terem filhos - o índice sintético de fecundidade (número de filhos por cada mulher em idade fértil) era de 1,37, em 2008, e de 1,33, em 2007, um dos mais baixos da União Europeia -.

Outro ponto associado ao anterior é óbviamente a questão dos agregados familiares não desejarem ter tantos filhos ou sequer ter filhos. Questões do foro económico podem desempenhar um papel importante, uma vez que a "segurança da medicina" - atrás referida - inconscientemente (ou não) faz com que os "drivers" da tomada de decisão passem a ser outros que não questões médicas, como o dinheiro ou o estado da economia e a expectativa de ter cash flow disponível e mal se fala deste tema, devem logo perguntar, então e a crise??

Se a crise teve impacto?
Ana Fernandes, demógrafa e docente na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, acredita que, provavelmente, sim. Recorda o ano 2000, com um fenómeno inverso (um "pico" de nascimentos, mais de 120 mil), como contraponto ao de 2009. "Da mesma maneira que em 2000 o excesso de nascimentos reflectiu o entusiasmo do guterrismo, com estabilidade no emprego, o desapertar do cinto, agora, provavelmente, estamos [a sentir] o inverso. Há contenção e a natalidade ressente-se", comenta. Os incentivos à natalidade pouco ou nada têm ajudado. "As mulheres sabem melhor do que os governantes o que afecta o nascimento de uma criança: a estabilidade em termos de trabalho, as condições de acolhimento - e as creches são poucas e caríssimas", observa. Este testumendo da Dra. Ana Fernandes (ver jornal "O Público") levanta alguns pontos que nos podem ajudar a ter ou a desenvolver uma opinião sobre este tema, pois introduz diversos pontos que influenciam a natalidade do país, como a relação entre factores económicos e sociais (e as cada vez menores preocupações com a saúde).

Para finalizar importa referir algumas forma como se poderão atenuar este cenário:
* Imigração, que é a ferramenta que mais depressa atenua o efeito deste fenómeno. Daí o país estar a procurar obter imigrantes com maiores níveis de qualificação (pois têm uma curva de aprendizagem mais rápida e mais facilmente se adaptam à nossa sociedade).
* Incenvitos à natalidade, com abonos de família mais vantajosos para os progenitores com filhos, por exemplo.
* Deduções fiscais aos pais com mais de 2 filhos

Mais uma vez o objectivo é ajudar a fundamentar opiniões...não podemos cair no risco do costume português "ahhh e tal...tá mau porque eu acho que tá e porque isto tá tudo mau..etc...etc...etc...". Temos de saber opiniar e tentar ao máximo perceber o que realmente se passa, pois só assim teremos validade na nossa argumentação e poderemos ser levados a sério.

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