Gina...

Tasca que é tasca tem de ter calendário de gajas de mamas à mostra,nem que seja ao pé do telefone público. Como nas antigas barbearias ou como ainda hoje se vê, nas oficinas de bate-chapas. Por isso, venho recordar a publicação que revolucionou a geração de 70 - a revista "GINA"

1974 não foi apenas o ano da liberdade ou da época em que os comunas lixaram isto tudo, ou até da desvalorização do escudo. Foi também o ano em que surgiu a GINA...essa grande publicação que marcou uma geração e que funcionou como a maior literatura de educação sexual de toda a sociedade masculina até ao aparecimento das cassetes de VHS e posteriormente da Internet.

Na capa havia apenas a imagem de uma mulher e uma frase: "Histórias Sexy Internacionais". Lá dentro, o guião hilariante para apimentar 32 páginas de fotos bem explícitas: casais em combustão, mulheres com mulheres, em grupo ou a solo. Penteados de outros tempos.

Foi a primeira publicação pornográfica (na minha análise era uma publicação eroticó-badalhoca) a chegar a Portugal. E ninguém melhor do que o homem que a lançou, em 1974, na ressaca da revolução, para nos falar dela. O feito valeu a Mário Gomes uma homenagem no Salão Erótico de Lisboa, que começa amanhã.

"Não ligo a isso.""País de brandos costumes? Conservador? Isso é só fachada."
A explicação vem a seguir: aos 13 anos Mário Gomes já conhecia o circuito clandestino das revistas pornográficas em Portugal. Sim, elas existiram durante a ditadura e escapavam ao controlo apertado da censura. "Mas só para quem conhecia os meandros."

Mário arranjava muito mais do que as revistas impressas em duplicador, cujos originais chegavam do Brasil, e contavam com a cumplicidade dos correios e das autoridades alfandegárias: por vezes lá conseguia um filme pornográfico, que era depois visionado pelo grupo de amigos numa garagem. Os tempos eram outros.

Passaram décadas, um casamento, três filhos e dezenas de publicações, mas a memória não atraiçoa este homem de 64 anos. A "Gina" acabou há quatro, e Mário Gomes, que traduziu e concebeu grande parte das histórias da revista, dedica-se hoje a uma publicação de crochet prático e ponto de cruz. "Em tempos fiz uma de Sudoku, mas aquilo correu mal."

Quando chegou às bancas portuguesas, depois de o irmão ter comprado na Feira de Frankfurt os direitos da revista para Portugal, a "Gina" custava 25 escudos. O negócio cresceu vertiginosamente e a distribuidora lançou mais três ou quatro títulos do género: a "Weekend Sex", "Darling" e "Top Sex". "Chegámos a ter as máquinas a trabalhar 24 horas por dia", lembra Mário Gomes, que às quatro da manhã já estava fora da cama.

Quando a empresa vendeu as oficinas, foi a ele que coube a tarefa de traduzir os originais, cujos pontapés na gramática, diz, "faziam parte". "Ainda hoje me começo a rir sempre que vejo uma revista", conta. "Por vezes era preciso acrescentar texto, quanto mais ordinário melhor."Os dias da "Gina" - e de Mário - eram então de "azáfama constante". "Depois do 25 de Abril, passou-se do 8 ao 80. Além dos alfarrabistas, que chegavam a comprar edições de 15 mil exemplares, na Baixa havia dezenas de exemplares espalhados pelo chão, uma vergonha."

Com a revolução digital a "Gina" foi perdendo força e reformou-se. Mário também, mas ainda hoje recebe pedidos de números antigos. "Tenho meia dúzia de clientes aqui na Baixa e alguns coleccionadores. São edições antigas, mas ainda se vendem." Para ele, a tarefa é fácil: basta descer à cave onde ainda guarda "100 ou 200 mil revistas". E uma versão da revista na Internet? "Não uso, mas já me sugeriram o gina.pt."

Comentários

gezi rehberi disse…


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