Maio de 68 mas agora em Dezembro 2008 e na grécia

Como se costuma dizer, só mudam as moscas.

Para quem gosta de olhar para as notícias internacionais em vez de ficar burro com palas a olhar para o seu umbigo, deverá certamente aperceber-se da situação em Atenas.

Na minha nada válida e singela opinião aquilo é mais do mesmo, a diferença é que é na Grécia (vá...desta vez o sarkozy deve estar a suspirar de alívio), não é em Maio, não é em 1968 e....e.....e....não é na primavera :)
de resto...é estudantada, é num bairro universistário, é um partido conservador à frente dos destinos da nação e tem uma grande conotoação culturar associada com todos as gritarem pelo equilíbrio de classes, pelo poder estar todo concentrado numa elite afastada da população..enfim...o eterno combate!

ahhh, lembrei-me agora que na altura havia o comunismo como ideal político e o mundo podia enquadrar os revoltosos como comunas...hoje em dia, já se viu que aquilo não mesmo nada, por isso agora são chamados de anarquistas - não sei se são ou não, mas que é um indício (mais um) das transformações sociais que a europa está a sofrer, é! E repito...temos de estar atentos aos sinais, às movimentações...prevenir para estar melhor preparado!!

Como sempre, gosto de olhar para os 2 lados da "cerca" e por isso acho que este texto ajudará a dar outra visão ao conflito ateniense:

Exarxia, o "bairro anarquista" de Atenas.
Imaginem os bares do Bairro Alto, de Lisboa. Os de Exarxia são idênticos. Em grande quantidade, pequenos e muito animados, cheios de gente jovem e descontraída.

Mas, os destes quarteirões de Atenas têm, neste período muito conturbado da vida local, um ambiente especial. Os clientes gostam da farra, mas são muito politizados.
Às 23 horas, tinha havido uma nova cena da guerrilha habitual entre os "Koukoulofori" (os encapuzados) e a polícia. Os atenienses já se habituaram a essa banalidade das pedradas, das chamas dos cocktails-molotov, das explosões das bombas de gás lacrimogéneo, da pancadaria e das bastonadas.

O bar Delphis, no quarteirão de Navarino, continuou aberto durante os 45 minutos de duração do combate à sua porta. Também na noite da véspera, mantivera as portas abertas durante os violentíssimos combates que assolaram todo o bairro durante várias horas.

Enquanto na rua decorriam as explosões e bastonadas, no bar ouvia-se musica rock e jazz e continuava a beber-se muito álcool. Os jovens revoltados que passam depois da meia-noite à porta do bar são aplaudidos.

O Delphis é frequentado por jovens artistas, escritores e estudantes. "Vivemos aqui muito bem, este bairro sempre foi um espaço de liberdade", exclama Mira, uma artista plástica residente no quarteirão de pequenos prédios decrépitos, também nesse aspecto idêntico ao bairro lisboeta.

Os "Koukoulofori" não os incomodam? "Claro que não! Esta luta é necessária para o povo grego e para a Europa onde os ricos açambarcam tudo!", diz a simpática grega, morena e impetuosa, de 30 anos.

Ao lado, o namorado, Ilias, que tem a mesma idade e é desenhador num atelier de arquitectos, está com ar cansado. Na véspera "andou na guerra", como diz. "Acertei nos polícias com algumas pedras", gaba-se. Terminara a noite - "a curtir", sublinha - no Pireu, na periferia de Atenas, às 7 da manhã de domingo, ouvindo Lou Reed, Radiohead e Brad Meldau, em casa de amigos. Bebe cerveja, tal como a namorada. Um comentário sobre o ambiente ligeiramente insurreccional de Atenas? "Tudo está a bater certo, meu", responde Ilias.

Está a poucas centenas de metros a escola Politécnica, o quartel-general dos revoltados de Atenas, ocupada por 500 guerrilheiros urbanos. Não se sente uma ponta de stress, a esta hora, apesar dos combates de há alguns minutos.

A "revolução" é uma festa para estes jovens residentes do bairro. "Já reparaste?", pergunta-me Mira. "Não há patrulhas da polícia nas ruas, o bairro é nosso!", exclama, com um franco sorriso.

Mira está visivelmente com mais sede do que Ilias. E oferece-me um "raki" - "aqui bebe-se um verdadeiro raki e é barato!". Tudo de facto é muito mais barato em Exarxia do que no resto da cidade, onde os preços nos cafés e restaurantes do centro são inabordáveis - 2,8 euros um café, 20 euros uma sandes e uma cerveja no Public, na praça Syntagama, em frente ao Parlamento. O raki é de facto saboroso - e forte. 1,5 euros cada, pagou Mira.

A artista tem razão. De facto, as forças da ordem não ousam andar nas ruas de Exarxia. Nem de dia nem de noite. Só se vêem, às centenas, quando rebentam confrontos, o que acontece com uma frequência estonteante.

Nos restantes bairros de Atenas, verifica-se o contrário. Em todo o lado há imensas patrulhas da polícia, em todos cantos da cidade se vêem agentes anti-motim. As forças policiais de Atenas estão em pé de guerra desde o dia 6, quando um dos seus agentes abateu um jovem de 15 anos a tiro, exactamente aqui, no quarteirão de Navarino, em Exarxia.

Durante a guerra de sábado à noite, os "Koukoulofori" atacaram o "bunker" que é o posto da polícia do "bairro libertado" e alguns bancos noutros locais da cidade. "Vamos conseguir fechar o posto do nosso bairro", promete Ilias.

Os jovens de Exarxia sonham com uma vida sem polícia nem prisões, com uma espécie de "bairro do amor" na versão do cantor português Jorge Palma. Ilias e Mira gostam da geração beat dos anos 60. Lêem Jack Kerouak e ouvem Bob Dylan.

Não são anarquistas. Mas preferem a "lei" imposta pelos amotinados da Politécnica do que a do Estado. Mantêm contudo algum realismo. "Vamos ver se isto dura", suspira Mira. Por volta da 1h30 de hoje saem abraçados para a rua e desaparecem no meio da multidão amiga dos revolucionários que circula vagarosamente em Exarxia, onde se dorme muito pouco durante a noite.

"Isto", segundo Mira e Ilias, é a vida de revolução e festa dos dias e noites de hoje no "bairro libertado", mais conhecido em Atenas pelo nome de "bairro anarquista".

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