Para todos os progenitores

Sim, que isto cá na tasca fala-se de tudo e para todos. Pelo que surgiu um artigo bem interessante no "i" sobre filhos e pais:

Antes de entrar no balneário, ele já sabe o que vai acontecer. Os colegas cercam-no, empurram-no contra a parede e batem-lhe até se fartarem da brincadeira. Antes de entrar no refeitório, antes sequer de saber qual é o menu do dia, ela já sabe que não vai comer. Ninguém conhece os segredos dele e dela. Ninguém menos Javier Urra.

Durante meses, o psicólogo clínico espanhol entrou nas escolas de todo o país. Pediu aos adolescentes e também aos adultos para escreverem numa folha em branco o que escondem uns dos outros. Coleccionou 3.400 desabafos anónimos e colocou-os no seu livro "O que Ocultam os Filhos e o que Escondem os Pais", da Esfera dos Livros, que esta semana chegou às livrarias.

Javier Urra descobriu que os segredos dos mais novos escondem tristezas, pensamentos suicidas, problemas de alcoolismo, solidão mas também muita capacidade de entender as emoções. "Encontrei bastante poesia e muita aptidão para a reflexão", conta o pedagogo madrileno. Os miúdos portugueses guardam os estados de alma, mas sabem o que estão a sentir.
Fazem "diagnósticos exaustivos", usam as palavras escritas para traduzir melancolia e depressão. "Surpreendeu-me, porque as crianças espanholas não são assim", confessa.

O psicólogo do Tribunal de Menores de Madrid também conhece muito do que os alunos espanhóis ocultam aos pais, porque repetiu o mesmo estudo nas escolas de Espanha. Cometem transgressões iguais aos portugueses, mas colocam menos interrogações sobre o que fazem. "São rapazes e raparigas mais terrenos. Contam que faltam às aulas ou que vêem filmes pornográficos e não reflectem sobre isso."


São diferenças, mas há igualmente muitas semelhanças perigosas entre os jovens dos dois países: o consumo de álcool a partir dos 13 ou 14 anos; a homossexualidade escondida e a "violência e humilhação" que sofrem dos outros colegas da escola.


Silêncios

"Os adolescentes e as crianças calam profundamente o que acontece na escola e os comportamentos que têm nos seus tempos livres", explica Javier Urra. Estão convencidos que não vale a pena contar aos pais que bebem durante toda a noite, que são gays, que lhes batem quando estão nas aulas. Isso não resolve os seus problemas. Ou então complica ainda mais, justificam.


Os pais nunca irão saber disso, se não estiverem atentos. "Há que estar em contacto com os professores, que conhecer os amigos dos filhos e há, sobretudo, que aproveitar as situações do quotidiano para que as conversas nasçam de forma natural." Só que, para isso acontecer, os adultos têm também de aprender a partilhar alguns dos seus segredos: "Uma boa parte deles não revela as experiências que viveram na adolescência e isso poderia ser usado como uma forma de se aproximarem dos seus filhos."

Medos

Mas há medo de perderem a autoridade. Medo de serem julgados e muito medo que descubram que, afinal, também eles cometeram muitos dos erros que agora recriminam nos filhos. "É preciso perder todos estes receios e seleccionar o que podem contar aos miúdos. Saber o que os torna mais humanos perante os filhos, criar intimidade", avisa o psicólogo. Conversar em qualquer lugar e a qualquer hora. Dentro do carro quando viajam até à aldeia dos avós, no sofá da sala sempre que vêem televisão, com os amigos dos filhos de cada vez que entram no seu apartamento.

Todos os contextos do dia-a-dia são pretexto para começar uma conversa e introduzir temas difíceis. "Os media podem ser um trunfo. Quando se está a ver um programa, ou a ler uma reportagem sobre violência na escola, é possível utilizar isso como ponto de partida para um diálogo que pode revelar o que o filho faz na escola." É o melhor conselho que Urra dá aos pais, mas é preciso não abusar da receita: "É muito importante que os pais saibam respeitar os silêncios dos filhos." Por vezes o adolescente fecha-se como uma ostra e há que respeitar. Há segredos que serão sempre segredos. "Todos temos sombras que os outros devem respeitar." E, no fim de contas, o silêncio também é comunicar, diz o pedagogo.

Comentários

Anónimo disse…
"Fala-se tanto da necessidade de deixar um planeta melhor para os nossos filhos e esquece-se da urgência de deixarmos filhos melhores para o nosso planeta."

Beijinhos by Aeroninita

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